quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quero apenas cinco coisas...

Primeiro o amor sem fim.
A segunda é ver o outono.
A terceira é o grave inverno.
Em quarto lugar o verão.
A quinta coisa são os teus olhos.
Não quero dormir sem os teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.

Abro mão da primavera para que me continues olhando.

http://www.neruda.uchile.cl/obra/obraestravagario1.html

Pablo Neruda (1904-1973)

terça-feira, 16 de março de 2010

Está vazio e ouve a guerra
(Porque escreve sempre coisas tristes?)
A esperança vaga que já lhe passou pela memória, é agora não mais do que memória. Está vazio e ouve a guerra. Distraí-se para não ouvir o eco do nada espalhando-se pela cabeça. E disfarçasse, para se enganar a si mesmo, de herói. Orgulhoso, apregoa pelos seus nãos, esses magníficos figurões de estilo do espírito, sem significado para mais ninguém que ao próprio. Conceptualiza cenários magníficos que se arruínam diariamente em sonhos de pó, inerte, sujo e rasteiro.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Último Beijo

Muitos falam do primeiro, poucos falam do último. Talvez porque o ultimo se revela, mais tarde, quando se confirma que o é, o mais melancólico. É indefinido, tantas vezes não lembrado, porque não sabíamos, na altura em que o demos, que era o último? Necessariamente fugaz, de despedida, de esperança que venham outros, nunca sabendo realmente se virão. Depois dele, somos nós que nos vamos ou vão outros por nós?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Quem vem lá?


“Quem vem lá?” Perguntou a ovelhinha da porta de sua casa. “Porque querem entrar no meu reino, nas minhas possessões terrenas?” Reforçou com desdém. Durante algum tempo fez-se silencio, ninguém respondeu, pois lá fora apenas o sol quente e uma brisa ligeira se aventuravam naquela tarde suave de Domingo.
A ovelhinha não desanimou, manteve a guarda, não era dia de semana, não costumava passar ninguém por ali, mas quem sabe. Poderia surgir quem quisesse entrar, até sem licença, e roubar todo aquele nada que era o seu todo. Nunca tinha partilhado, sequer umas raspas, de algo seu. Nunca tinha deixado ninguém entrar. Se calhar ninguém tinha até querido entrar, já não se lembrava.
Muitos nuncas, para uma simples ovelhinha, que por lá ficou, à espera, resmungando “Quem vem lá?” quando apenas o vento soltava assobios do encontro com as giestas.